O racha da Libra explodiu nos bastidores e o Flamengo obteve uma liminar no TJ-RJ que congelou R$ 77 milhões do repasse atrelado ao critério de audiência do contrato com a Globo (2025–2029). O clube alega falhas na regra de medição; os demais falam em “conduta predatória”. Resultado: dinheiro parado, clima de guerra e um debate que interessa a todo o futebol brasileiro: crescer o bolo ou brigar pela fatia? ge+1
Antes de escolher lado, dá para ancorar a conversa em fatos. Em março de 2024, a Globo fechou com a Libra para exibir, com exclusividade, os jogos dos seus mandantes no ciclo 2025–2029. Meses depois, também fechou com a LFU — consolidando, na prática, o ecossistema de transmissão do Brasileirão para os próximos cinco anos. Ou seja: a receita existe, os contratos estão assinados e as fórmulas de distribuição foram publicadas. ge+1
Qual é a tal fórmula? A própria Libra difundiu a divisão 40-30-30: 40% igualitário, 30% por desempenho e 30% por audiência. A briga atual mora nesses “30% de audiência”. O Flamengo diz que a métrica não é transparente; a Libra rebate que o critério está no Estatuto e foi aprovado por unanimidade — “inclusive pelo próprio Flamengo”, pontua a nota pública. É por causa desse impasse que a parcela de R$ 77 mi ficou travada. ge+2ESPN.com+2
Do outro lado, os clubes reagiram forte. Palmeiras e São Paulo, por exemplo, divulgaram notas de repúdio; o Verdão avisou que acionará o Flamengo na Justiça. A crítica central: a trava afeta caixas mais frágeis e gera desequilíbrio competitivo em plena temporada. Em linguagem direta: para quem não nada em superávit, essa parcela faz diferença entre investir (ou pagar folha) e apertar o freio. ge+1
Onde entra o “bolo maior”? Em ligas maduras, a soma de contratos, internacionalização do produto e previsibilidade vendem o campeonato como um único show — e não como 20 shows separados. Quando Libra e LFU disputaram o mercado, os valores finais ficaram “próximos” e, somados, robustos. O problema é que, sem coordenação total, o teto de crescimento fica mais baixo que poderia; com governança alinhada, a tendência é valorizar todo o pacote (doméstico e internacional). ge
Exemplo concreto: no exterior, Libra e LFU unificaram a venda de direitos internacionais por 2025–2027 — mas sem jogos com Flamengo mandante. É meia ponte: ajuda a turbinar a vitrine, porém ainda deixa uma peça valiosa fora do tabuleiro. Se todos estivessem juntos, a precificação de “todo o Brasileirão” lá fora tenderia a subir — e quem ganha primeiro são os clubes médios, que multiplicam sua exposição e receita por jogo. ESPN.com
Agora a pergunta que dói: os “outros” se beneficiariam mais de um bolo maior do que de uma mudança pontual na régua de audiência? Sim. Pelo 40-30-30, 40% é igual para todos, e 30% vem da performance (que alguns conseguem capturar com boa gestão). O salto de receita estrutural nasce de narrativas vendidas em bloco (janelas, streaming, internacional) e de previsibilidade para sponsors. Em português claro: uma liga coesa costuma valorizar até quem não lidera Ibope — e isso paga CT, base e elenco. ge+1
Isso inocenta o Flamengo? Não. O clube tem todo direito de questionar critérios, mas travar o fluxo inteiro no vareio do campeonato cria efeito colateral que respinga nos 15, 16, 17º orçamentos — exatamente quem mais precisa de previsibilidade. A crítica pública de rivais e a escalada jurídica mostram que a estratégia, ainda que legítima, cobrou um preço político altíssimo e arrisca isolar o Rubro-Negro dentro da própria coalizão. CNN Brasil+1
Por outro lado, também não inocenta a Libra: se o critério de audiência é bom, tem que ser auditável, replicável e publicável com granularidade — inclusive para um clube que, goste-se ou não, é o maior gerador de audiência do país em várias métricas recentes. Transparência não é concessão; é requisito para a liga virar produto global e para encerrar a eterna “disputa do tapetão” por interpretação de planilhas. ge
O caso dos R$ 77 milhões virou arma num duelo de poder, mas a solução não está em morder mais da mesma pizza — e sim em assar uma pizza maior. Uma governança que una contratos domésticos e internacionais, padronize métricas, publique relatórios e proteja a previsibilidade anual vai colocar mais dinheiro no caixa do Mirassol ao Palmeiras, do Vitória ao São Paulo, do Bahia ao Bragantino. E, paradoxalmente, isso também deixa o Flamengo (e seus rivais de topo) ainda mais ricos — só que com o campeonato inteiro mais forte. ESPN.com+1















