Flamengo sem enrolação.

Flamengo X Racing: como foi em termos táticos

O Flamengo venceu o Racing no Maracanã, mas o placar não contou toda a história do jogo. A partida foi um retrato de como o talento individual pode mascarar erros coletivos, e de como um time que domina em posse de bola pode, ao mesmo tempo, perder o controle emocional em momentos-chave. O duelo foi intenso, estudado, e revelou que o Flamengo ainda oscila quando precisa transformar domínio em superioridade tática clara.

O primeiro tempo foi de muita posse e pouca objetividade. Filipe Luís manteve o desenho habitual, com o meio-campo povoado e os laterais subindo em sincronia para abrir amplitude, mas o Racing, com linhas compactas, travou as triangulações pelo corredor central. O Rubro-Negro girava a bola com paciência, mas sem conseguir romper o bloco defensivo argentino, que fechava bem as entrelinhas.

Quando o Racing tinha a bola, a estratégia era simples: acelerar nas costas dos laterais e forçar a transição defensiva do Flamengo, ainda inconsistente. Em alguns lances, o adversário conseguiu criar superioridade numérica nas pontas, expondo o espaço deixado por Ayrton Lucas e Wesley. Foi o primeiro sinal de alerta da noite — um problema que se repetiu mesmo após o time abrir o placar.

No segundo tempo, o Flamengo mudou de postura. Filipe Luís percebeu que precisava de mais intensidade e acionou opções mais verticais. A entrada de jogadores de mobilidade mudou a dinâmica ofensiva: o time passou a atacar o espaço em vez de insistir tanto na posse. A melhora veio quase imediatamente, e o gol saiu após uma sequência de passes curtos e infiltração precisa, mostrando o poder de fogo quando o time acelera no tempo certo.

Mesmo com a vantagem, o Flamengo não conseguiu controlar completamente o jogo. O Racing cresceu quando o adversário recuou demais para administrar o resultado. Os argentinos pressionaram a saída de bola e aproveitaram os buracos no meio-campo. A desconcentração rubro-negra nos minutos finais quase custou caro — mais uma vez, o time mostrou dificuldade em manter o foco e o equilíbrio quando é pressionado.

Do ponto de vista tático, a partida foi um estudo sobre o contraste entre controle e execução. O Flamengo teve mais de 60% de posse, mas cometeu erros simples de passe e cobertura que deram vida ao adversário. O problema não é o modelo de jogo, mas a forma como o time lida com o emocional quando o roteiro sai do previsto. Faltou frieza para transformar domínio em imposição.

O Racing, por sua vez, mostrou por que é um adversário sempre perigoso. Jogou com disciplina, intensidade e leitura tática acima da média. A cada perda de bola, havia recomposição imediata; a cada falha do Flamengo, uma tentativa de contra-ataque direto. A equipe argentina foi valente, mas sentiu a limitação técnica na hora de definir.

No banco, Filipe Luís foi o retrato do nervosismo. Gesticulou, cobrou e tentou reorganizar o time, mas a mensagem demorou a surtir efeito. O Flamengo oscilou entre o domínio técnico e a confusão tática, especialmente após o gol. É uma equipe em transição, que ainda busca entender como controlar o jogo sem perder intensidade — e isso é parte do aprendizado.

Taticamente, o destaque positivo foi o setor esquerdo. Ayrton Lucas e Bruno Henrique foram as válvulas de escape mais perigosas, e o gol nasceu exatamente dali. O lado direito, porém, continua vulnerável, e o meio precisa de mais coordenação entre os volantes. A pressão pós-perda funcionou bem em parte do jogo, mas caiu quando o físico pesou.

O Flamengo venceu e isso é o que conta em uma semifinal de Libertadores. Mas a análise fria mostra um time que ainda precisa ajustar as engrenagens para enfrentar desafios maiores. O talento individual segue salvando, mas o equilíbrio coletivo ainda está em construção. No papel, é o melhor elenco do continente; na prática, ainda precisa provar que também é o mais inteligente.

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