No Brasil, o juiz não é apenas parte do jogo — muitas vezes ele é o protagonista. Ramon Abatti Abel é um protagonista. Quando o apito soa, a dúvida já começa: quem vai vencer, o time melhor preparado ou o que tiver mais sorte com a arbitragem? O futebol brasileiro virou um campo minado onde cada falta, cada pênalti e cada impedimento parecem depender mais do “feeling” do árbitro do que da regra.
O VAR, que prometia ser o “salvador da justiça esportiva”, virou um novo vilão. Lento, confuso e seletivo, ele mais gera revolta do que esclarece. Tem hora que parece um oráculo: aparece quando quer, interpreta como quer, e desaparece quando o lance é contra um clube grande.
A incoerência virou rotina. Um pisão igual é vermelho em um jogo e amarelo no outro. Um toque de mão é pênalti para o visitante, mas ignorado quando é o mandante favorito da rodada. E quando o juiz é chamado ao monitor, já se sabe: a chance de ele manter a decisão inicial é quase zero. É o teatro do convencimento em rede nacional.
O problema não é falta de tecnologia, é falta de coragem. A arbitragem brasileira é refém de pressões políticas e midiáticas. Juízes são escalados com medo de errar contra quem manda no futebol. E, convenhamos, há clubes que parecem ter crédito ilimitado no VAR Bank.
Enquanto isso, os torcedores vivem de raiva e desconfiança. Nenhum resultado é aceito sem debate sobre o apito. A paixão pelo jogo foi substituída por discussões de frame congelado e linhas traçadas tortas. A credibilidade se esvai a cada rodada.
A CBF tenta maquiar o caos com discursos técnicos, mas a verdade é que falta profissionalismo. Árbitro no Brasil ganha pouco, treina mal e sofre mais pressão que um goleiro em final de Libertadores. O sistema é amador, e o resultado está à vista.
Clubes já pedem arbitragem estrangeira em finais. E não é exagero: quando os times confiam mais num juiz argentino do que num brasileiro, é sinal de falência moral do nosso apito. E o torcedor sabe disso, mesmo sem entender todas as regras.
É curioso ver dirigentes que ontem reclamavam da arbitragem hoje se calarem quando o erro os beneficia. A hipocrisia é generalizada. No futebol brasileiro, o discurso muda de acordo com o lado da decisão.
O que deveria ser uma exceção virou parte da estratégia. Técnico que reclama do juiz em coletiva está, na verdade, preparando o terreno para o próximo jogo. É o velho jogo fora das quatro linhas, onde o apito é uma arma tática.
O futebol brasileiro precisa de um choque de credibilidade. Arbitragem profissional, punições exemplares e transparência total no VAR. Mas enquanto o apito continuar sendo mais influente que o craque, o torcedor seguirá perguntando: quem ganhou o jogo — o time ou o juiz?


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